A comunidade indígena Ymboré, localizada na Aldeia do Cachimbo (município de Ribeirão do Largo/BA), recebeu sua segunda residência artística no marco do programa “AEI” – Arte Eletrônica Indígena. Dois pesquisadores e artistas vindos do Reino Unido; o inglês Tom Jackson e o brasileiro Andreas Rauh conviveram em setembro de 2019 com os Ymboré, registrando sonidos e reflexionando sobre arte, cultura e tecnologias. Esta residência artística de cocriação foi possível graças ao patrocínio do Programa Pontes, parceria da Oi, Oi Futuro e do British Council com a ONG Thydêwá.
Durante a residência os indígenas participantes exploraram sensorialmente o mundo sonoro de seu próprio quotidiano que muitas vezes passa despercebido. Andreas Rauh, músico que investigou formas de produção cultural independente na Inglaterra por seis anos, explica que, “esses sons ‘invisíveis’ do ambiente nos dizem muito sobre os lugares que ocupamos, e mais ainda, quem somos nesses espaços e como nos portamos ao compartilhá-los com outras pessoas”. O segundo membro da dupla, Tom Jackson, pesquisador, e artista multimídia docente na School of Media and Communication da Universidade de Leeds comenta que foi escolhido o sonido como principal aspecto da residência porque o sonido convida a imersão, é através do sonido que decidimos trazer o público para conhecer o mundo indígena real.
Além de usar gravadores de áudio professional para os registros sonoros, se realizaram registros binaurais. Atualmente Rauh e Jackson estão finalizando seis paisagens sonoras que serão compartilhas com o publico no Teatro Municipal de Ilhéus (BA), de 24 a 27 de setembro, das 09h às 21h, como parte do “III Colóquio Internacional da Rede Latino Americana de Investigações em Práticas e Mídias da Imagem: Tecnoculturas, Alteridades e Resistências Minoritárias”.
Tom trouxe do Reino Unido duas câmaras de vídeo 360° para realizar algumas provas. Tom tem experiência profissional em design gráfico, programação de sistemas interativos e realidade virtual e seu trabalho artístico incorpora experiências sensoriais, tecnologia, e comunicação, “combino interesses em estudos neurológicos e sensoriais com tecnologias de realidade virtual”, mas “mantenho uma visão crítica sobre o papel da tecnologia na sociedade, mantendo sempre em mente a importância de elementos sociais, culturais e do ambiente”.
Durante os dias de convivência na aldeia os artistas convidados estavam sempre junto a um ou uma ou vários dos “guerreiros” e “guerreiras” que são aqueles indígenas que dedicam grande parte de seu dia as tarefas das comunidades, aqueles indígenas da linha de frente que estão colocando seus talentos e seus corpos na luta pelos direitos indígenas, aqueles que estão ativos nos rituais religiosos da comunidade.