Aprender e ensinar. Hi-tech e low-tech. Conheça mais sobre o inquieto artista da “Árvore dos desejos”

Paulo Teles mistura conceitos. Hi-tech mesmo antes das tecnologias se popularizarem no país (visto que a maioria das pessoas só passou a ter acesso a internet, por exemplo, muitos anos após ela chegar no Brasil em 1988). O artista multimídia, ou midiartista como também prefere, é natural de Bauru, São Paulo, e tem mais de 30 anos de atuação nos campos do audiovisual e da arte tecnológica, com trabalhos exibidos em mais de 10 países. Atualmente integra suas obras a ações coletivas na produção de poéticas transculturais por meio de fusão entre expressões hi-tech + low-tech. É professor do Instituto de Artes da Unicamp na área de Arte e Tecnologia nos cursos de Artes Visuais e Midialogia.

A Árvore dos Desejos, residência que ocorre entre os dias 10 e 17 de julho em Pataxó Hahahãe, município de Pau Brasil (BA), é uma instalação sensorial interativa e transcultural que é realizada por meio de workshops de arte e tecnologia promovendo a educação pela arte. A natureza ancestrofuturista deste trabalho se expressa por meio de uma releitura de uma lenda ancestral japonesa acerca de uma árvore com poderes para realizar os desejos escritos nela pendurados.

Os participantes são levados a construir uma escultura em forma de árvore. E depois desenham, escrevem, gravam seus principais desejos. Também gravam e compõe músicas. Na árvore é anexado sensores de aproximação com interface controladora. Este processo promove inclusões de mão dupla no campo da arte tecnológica “high tech + low tech” por integrar expressões audiovisuais digitais à manufaturas e expressões musicais nativas e/ou ancestrais. Estas atividades envolvem reciclagem, desenhos, construção escultural, música interativa e interatividades audiovisuais a base de sensores de aproximação.

Conheça mais sobre o autor:

AEI: Como nasce um artista?
Paulo: Entre praticar a arte e ser reconhecido como “artista” há uma trajetória que pode ser longa ou curta, linear ou controversa. De todo modo, o(a) artista “gesta” em si mesmo, mas “nasce” de fato a partir do olhar, do afeto e da inserção do outro em sua obra.

AEI: Por que arte digital?
Paulo: Minhas “técnicas”, habilidades e propósitos artísticos remetem à prática musical, ao “remix” audiovisual e à computação gráfica. Os sistemas digitais potencializaram de forma exponencial este hibridismo multiplataforma residente em minhas inquietações. No entanto, nos últimos cinco anos tenho “remixado” o hi-tech (eletrônicos e digitais) com o low-tech (manualidades contemporâneas e ancestrais) de forma coletiva e multidiscilpinar.

AEI: Como você vê o impacto do digital na arte? E se você não é “nativo digital”, qual foi seu salto para chegar a isso?
Paulo: A partir do momento em que as plataformas digitais se popularizaram e os sistemas algorítmicos tornaram-se mais “amigáveis” a “leigos” de programação foi possível adentrar neste universo informacional de forma expressiva. No meu caso isto se deu a partir do início dos anos 1990.

AEI: De onde vem sua inspiração para criar?
Paulo: Costumam vir de inquietações momentâneas ou crônicas.

AEI: Quais os desafios de criar em conjunto com outras pessoas?
Paulo: Depende muito do desempenho de cada um dos envolvidos. Tempo e disposição são mais difíceis de administrar do que discutir conceitos e logísticas para o desenvolvimento de uma obra.

AEI: Por que o interesse pelo AEI? O que espera dele?
Paulo: Além de artista, sou professor de arte tecnológica e pesquisador junto ao Instituto de Artes da Unicamp. No meu caso, arte, pesquisa e formação são simbiontes, isto é, indissociáveis. O projeto AEI veio diretamente ao encontro de minhas pesquisas e produções artísticas atuais. Neles, tenho atuado junto a diversos países e povos com diferentes culturas e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano, mensurado periodicamente pela ONU). Trabalhar com povos indígenas com a oficina “Árvore dos Desejos” (esta será a terceira vez) promove incrementos e poéticas transculturais horizontais entre todos os envolvidos. Toca fundo o coração da gente o aprendizado que adquirimos enquanto “ensinamos” tanto quanto a realização total de obras coletivas desta natureza.

 

1 Comment
  • Davy Alexandrisky
    Posted at 21:06h, 29 junho

    Muito bom ler suas respostas Paulo. Certamente a sua inquietude contagiará os Pataxó Hahahãe e o processo da sua Residência ficará marcado para sempre nos seus trabalhos e desempenho desse Povo originário! Sua arte hibrida favorece um resultado harmônico nesse troca cultural.